segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Picolé com sabor de saber.


Era apenas mais uma tarde nublada de quinta-feira de inverno, e ele estava fazendo o que faz todos os dias, há exatos 34 anos. Muito solícito, aceitou realizar a entrevista de imediato, colocando sua velha e fiel amiga no chão - a caixa de isopor. “Vamos lá que eu ainda tenho que trabalhar!”, diz.

Seu Antônio
António Pereira dos Santos, 61 anos, nasceu em Irará, há 137 quilômetros de distância da capital baiana, onde tornou-se Seu Antônio do Picolé. Antes de virar sorveteiro, Antônio morou na cidade de Riachão do Jacuípe onde, desde os 10 anos, trabalhou como vendedor de mingau e posteriormente em uma roça de sisal. Como não se adaptou ao trabalho, o jovem, já com 16 anos, retornou à cidade natal e dias depois decide vir morar em Salvador.

Já estabelecido na capital baiana, em casa de parentes, Antônio retoma a vida profissional como servente de obra. “Aos 17 anos e meio eu sirvo ao exército e sou dispensado”, comenta. Após a dispensa das forças armadas, Antônio torna-se cobrador e depois de ter sido acidentado em uma das empresas, opta pelas vendas. Monta uma guia de cigarro com quatro vendedores, mas em um curto período de tempo viu seu sonho queimar-se como maço de cigarros – a guia quebra por falência.

No ano de 1979, após ter morado em diversos bairros como no Engenho Velho da Federação, Paripe, Uruguai, Antônio estabelece residência própria no bairro do Lobato de onde parte todas as manhãs para a sorveteria Bonocô para pegar os 300 picolés que são vendidos nos colégios dos bairros de Nazaré e Saúde.

Inverno ou verão, Antônio não desgruda da sua caixa de picolés e do seu sino que fazem à alegria da garotada dos bairros do Doron, Cabula VI e Narandiba. E embora tenha concluído seus estudos apenas aos 48 anos de idade, o vendedor é um grande defensor da educação.

Seu Antônio, como é conhecido pelos seus clientes, em sua grande maioria estudantes, revela que desenvolveu uma técnica de estudo única e que o fez chegar à programação da Tv Educativa onde dá dicas de como incentivar as crianças aos estudos. “Muitas pessoas me perguntam se eu não sei ler, eu respondo que sim e que sou uma pessoa muito inteligente e um grande matemático”, relata.

Odivan dos Santos, 15 anos, estudante, morador de Narandiba e cliente assíduo do sorveteiro diz que o trabalho desenvolvido pelo vendedor o faz estudar um pouco mais para poder ganhar picolé.

“Quando eu chego num local e tem vários jovens ou crianças de farda eu pergunto quem quer ganhar sorvete. E daí começa a brincadeira e se o estudante perguntado acertar a resposta ele ganha o picolé na hora.”, conta orgulhoso, o sorveteiro.

Em seu segundo casamento, pai de oito filhos e preocupado com sua aposentadoria, o sorveteiro paga a previdência social como autônomo e revela já ter vendido mais de 54.000 picolés na temporada de verão. Atualmente, o picolé vendido por Antônio custa R$1,50 e ele lucra 75% das vendas realizadas. “Por mês chego a faturar uma faixa de R$3 mil. Agora, nesse verão, com as amizades que tenho quero tirar uns R$4 mil.”, revelou.

No ano de 2012, o sorveteiro lançou-se na política como vereador pelo PV (Partido Verde), mas por falta de verba não pôde dar continuidade à candidatura. Contudo, já promete que em 2016 voltará com força total, pois além de contar com o apoio do presidente do partido, André Fraga, foi bastante assediado pelos eleitores.


No final da entrevista, já um pouco emocionado, por lembrar da sua história de vida e apresado para atender seus clientes, que o chamavam insistentemente, Antônio voltando um olhar sereno para mim, encerra: “Eu sou contra os jovens ficarem na rua. A gente tem sempre que procurar estudar para ter uma profissão boa”.

domingo, 1 de setembro de 2013

REZADEIRAS, a cura através das palavras.


Em função do crescente e acelerado crescimento tecnológico, atualmente, estamos perdendo alguns ofícios realizados, principalmente, em cidades do interior. As rezadeiras ou benzedeiras, por exemplo, é um ofício quase que extinto, atualmente. Foi esse o motivo que me levou a optar por uma pauta direcionada a esse tema.
A narrativa a seguir, revela características de algumas rezadeiras. Apresenta, ainda, ritos e rezas realizados pelas benzedeiras. Durante a leitura você terá a sensação de fazer parte da narrativa, pois em função do enquadramento a mesma possibilita o leitor adentrar na história. Espero que curtam a leitura.